O português popular da cidade de Salvador, capital do Estado da Bahia
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A 3ª Etapa da pesquisa do Projeto Vertentes iniciou-se no ano de 2007 e focalizou o português popular da capital do Estado da Bahia, a cidade de Salvador, a primeira capital do Brasil, situada na entrada da Baía de Todos os Santos. Salvador é a cidade brasileira com a mais forte presença da herança africana, a qual se reflete, de forma pujante, na religião, na música, na dança, na indumentária e na culinária, conferindo à capital baiana uma posição de destaque no universo cultural brasileiro. Com o português popular de Salvador, completou-se o contínuo de variedades populares do português no Estado da Bahia escrutinadas pela pesquisa empírica do Projeto Vertentes. As análises variacionistas realizadas sobre a amostra de fala constituída buscaram iluminar o processo de nivelamento linguístico previsto no algoritmo da polarização sociolinguística do Brasil (LUCCHESI, 2015), no qual as formas de maior prestigio da variedade linguística da elite letrada difundem-se de cima para baixo na estrutura social (LABOV, 2008).

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Assim, o português popular de Salvador, como o de todas as grandes metrópoles, seria a variedade que mais se aproximaria da norma culta no contínuo da norma popular, pois, em função do seu contato mais estreito e maior acesso aos modelos linguísticos da elite letrada, esses atingiriam primeiro as classes baixas das grandes cidades, para depois chegar às médias e pequenas cidades do interior, seguindo para a zona rural até atingir às comunidades rurais mais isoladas, como as comunidades quilombolas. Portanto, com a reunião dos resultados das análises variacionistas das variedades populares cobertas pela pesquisa do Projeto Vertentes, é possível formalizar com uma fundamentação empírica consistente, o contínuo das mudanças de difusão das formas da norma culta, o que constitui um dos aspectos estruturantes da realidade sociolinguística do Brasil. Esse contínuo tem o seguinte vetor de propagação: português popular das grandes metrópoles > português popular das médias e pequenas cidades do interior do país > português popular das zonas rurais > português das comunidades rurais mais isoladas, com destaque para o português afro-brasileiro (LUCCHESI; BAXTER; RIBEIRO, 2009).

Por outro lado, a violenta concentração de renda e marginalização social restringem esse processo de difusão da norma urbana culta, porque boa parte dos falantes da norma popular habitam bolsões de pobreza e violência urbana, nas periferias das grandes cidades brasileiras, sem acesso ao mercado de trabalho e consumo e privados de direitos básicos da cidadania, como educação e saúde públicas. Por conta disso, muitas das marcas linguísticas forjadas no passado em função do contato entre línguas ainda podem ser observadas na fala dos moradores de baixa escolaridade das periferias das grandes cidades brasileiras, muitos dos quais são migrantes do interior do país ou descendentes desses migrantes. Portanto, o grande êxodo rural ocorrido ao longo do século XX levou para a periferia das grandes cidades as marcas linguísticas que o contato entre línguas produziu nos primeiros quatro séculos da formação da sociedade brasileira (ver História). E, na medida em que for ocorrendo a inserção dos moradores das periferias das grandes cidades no mercado de trabalho e consumo e no universo da cidadania, essas marcas irão desaparecer, sendo substituídas pelas formas hegemônicas no grande universo do letramento urbano.

Para iluminar todo esse universo sociolinguístico das classes populares da cidade de Salvador, os pesquisadores do Projeto Vertentes realizaram 96 entrevistas com moradores de pouca ou nenhuma escolaridade de quatro dos principias bairros populares da cidade de Salvador e de um município de sua região metropolitana, em uma ampla pesquisa de campo que se iniciou no ano de 2007 e se estendeu até o ano de 2009.

O Universo de Observação do Português Popular de Salvador...

A constituição da Amostra de Fala Vernácula do Português Popular de Salvador...

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Expediente O responsável por este sítio é o Coordenador do Projeto Vertentes, Dante Lucchesi, autor da maioria dos textos aqui publicados.

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