Os conjuntos habitacionais populares do bairro de Cajazeiras foram erguidos, na década de 1980, pela URBIS e tinham como objetivo proporcionar a criação de um subcentro regional, a fim de evitar a hipertrofia da área central de Salvador. Serpa (2001) afirma que o seu principal papel, então, "era o de abrigar uma numerosa população distribuída em nove bairros, bem como distribuir as atividades de comércio e serviços, como forma de fixar esta população no local".
...O governo do Estado iniciou em 1975 o processo de desapropriação das terras de quatro grandes fazendas: a Fazenda Jaguaripe de Cima, também conhecida como Fazenda Grande, a Fazenda Cajazeiras, a Fazenda Boa União e a Chácara Nogueira, num total de 16 milhões de m², absorvendo áreas na BR-324, na altura do Supermercado Makro, até o Km 5,5 da Estrada Velha do Aeroporto, cujos limites abrangiam os bairros de Castelo Branco e Nova Brasília e atravessando o Golfe Clube. A escolha da área se deu devido à sua localização, objetivando a integração dos diversos núcleos habitacionais instalados nas proximidades e sendo mais uma alternativa para o surgimento de um centro regional de comércio e serviços, proposto na margem da BR-324, em Águas Claras.
O bairro teve ocupação e expansão significativa a partir da década de 1990 e, hoje, caracteriza-se por reunir populações de diferentes origens, oriundas do interior do estado e também de outros bairros populares, e por um comércio local em constante expansão, que procura atender às necessidades da sua população, já que o bairro encontra-se bastante isolado do centro da cidade.
O Governo baiano intencionava que houvesse mais 8.000 unidades habitacionais nas áreas remanescentes, porém, os financiamentos para construção de casas populares foram suspensos por vários anos. Nessa linha de tempo, a Boca da Mata foi planejada como última etapa da construção de Cajazeiras, integrada aos setores 5, 6 e 7 da Fazenda Grande IV.
Em conseqüência dessa falta de definição, ocorreu a invasão das encostas e vales nos arredores do conjunto, que hoje abrigam mais de 50.000 pessoas, indicando o agravamento de problemas sociais e considerável inchaço populacional, contribuindo para o desequilíbrio habitacional do bairro (FREIRE, JÚNIOR E GOMES, 2002). Muitas dessas invasões já são bairros oficializados pelas autoridades, como é o caso do Conjunto Jaguaripe I e II, localizado próximo a Cajazeira VIII, tendo sido beneficiado com o Programa Viver Melhor do Governo do Estado da Bahia, e o Parque São José, com pouco mais de 500 casas.
Conforme Freire, Junior e Gomes (2002), "atualmente, o bairro de Cajazeiras apresenta características iguais a qualquer outro bairro de Salvador, apesar de ter sido 'planejado'". Contudo, a impressão que se tem, devido às dimensões do conjunto, é de que se trata de uma cidade dentro de Salvador, pois em seus mais de vinte anos de existência cresceu tanto que passou a ter vida própria, e, igual a todos os bairros da cidade, também enfrentou um processo muito grande de desordenamento e necessita de obras de infra-estrutura para que a sua população tenha melhores condições de vida.
Serviços: Apesar de possuir comércio próprio, a estrutura de serviços inicialmente projetada ou praticada tornou-se insuficiente para atender à atual demanda populacional que cresceu numa proporção inimaginável. No corredor entre o posto de saúde da VII e o Atacadão (próximo à Fazenda Grande I) podem ser encontradas diversas lojas dos vários segmentos comerciais, cursos de informática, lan houses, etc. Apenas há pouco tempo foi estabelecido um Centro de Distribuição dos Correios, dois bancos e outros serviços, após anos de intensa solicitação da comunidade. A população ainda reclama a existência de um cemitério público local, pois utiliza outros da cidade, mesmo com a construção do "Cemitério Bosque da Paz", na Estrada Velha do Aeroporto, de cunho privado.
Educação: Na questão da Educação, em Cajazeiras X funciona a Escola Básica e Profissional Fundação Bradesco, estabelecida desde 1985, que se destaca pelo método de aprendizado considerado bastante avançado. O bairro possui também diversas escolas particulares, públicas municipais e estaduais em todos os níveis educacionais, além de creches.
Saúde: Na área de saúde, Cajazeira possui dois postos de saúde, um na Cajazeira II e outro na Cajazeira VIII, este último oferecendo serviço de emergência. Além destes equipamentos, o bairro dispõe também da Maternidade Albert Sabin, do Hospital Geral de Cajazeiras, o Hospital Jaar Andrade e de várias clínicas particulares.
Segurança: A segurança em Cajazeiras está a cargo da 3ª Companhia Independente da Policia Militar, que atua com um efetivo de 120 homens e oito viaturas. A C.I.P.M. de Cajazeiras fica na Estrada do Coqueiro Grande, num prédio onde havia um shopping comunitário abandonado próximo ao supermercado Atacadão, em frente da atual agência do Banco do Brasil. No bairro também está instalada a 13ª Delegacia da Polícia Civil, localizada entre a Cajazeira VIII e a Cajazeira X.
Abastecimento: Além de pequenas casas comerciais, o bairro possui também uma unidade da rede de supermercados Atacadão, em uma grande área que anteriormente era do Bom Preço. No largo da Cajazeira VIII (recentemente reformado), funciona ocasionalmente a feira do bairro (conhecida, porém, como "Feirinha da Dez") que tem o seu dia de maior movimento nos sábados. Há na Cajazeira X uma loja da Cesta do Povo que possui uma feirinha agregada a ela. Fora estes serviços, a população faz as compras adicionais no centro da cidade ou no bairro de Castelo Branco. Cajazeiras possui bares e diversos restaurantes, churrascarias, sorveterias e pizzarias com entrega à domicílio.
Transporte: Um dos maiores problemas do bairro é o transporte público, o que faz com que diversas pessoas rejeitem a idéia de ir morar lá e que tantos outros se mudem. Atua na área das Cajazeiras um número insuficiente de veículos para atender à demanda de passageiros. O que alivia a situação é a presença do sistema de transporte suplementar de microônibus e vans, que fazem as linhas para a região de São Cristóvão, Itapuã e Brasilgás, na rodovia BR-324.
Por ser um bairro novo, que teve a sua expansão na década de 90, tornou-se praticamente impossível encontrar moradores de faixa II e III nascidos e criados no bairro; em decorrência disto, apenas os informantes de faixa I atenderam a esta característica, sendo os demais informantes do interior do estado, residindo no bairro há pelo menos 15 anos.
Cajazeiras é um bairro com dimensões de município e, muitas vezes, entre uma entrevista e outra, em localidades diferentes do bairro, fazia-se necessário o uso de transportes coletivos tamanha a distância a percorrer. Desta forma, há de se imaginar que o perfil dos moradores das várias regiões de Cajazeiras é bastante diversificado e, por isto, não se definiu, tendo em vista as redes de relações sociais, se os informantes deveriam ter um perfil disperso ou local.
Assim como na busca de informantes nos outros bairros de Salvador analisados no Projeto Vertentes, encontrar pessoas analfabetas e semi-analfabetas é tarefa bastante difícil. A forma encontrada para chegar a pessoas com o perfil desejado foi ir até escolas de ensino fundamental, pois, como se sabe, muitos estudantes que se encontram neste nível na maioria das vezes são na verdade semi-analfabetos. Quando, no primeiro contato, se percebia uma maior intimidade do possível informante com a escrita e leitura, ele não se tornava informante de fato.
As entrevistas aconteceram em lugares diversos, como as residências dos informantes, escolas e creches, mesas de bares, qualquer lugar onde, no momento, fosse possível manter uma conversação informal. Os temas abordados seguiam, conforme orientação sociolingüística, um curso de conversa informal e, assim, inevitavelmente, surgiam queixas sobre o sistema de transporte e a violência que anda assolando algumas localidades, como Cajazeiras XI e Boca da Mata.
Saiba mais sobre os demais bairros ou região metropolitana:Bairro da Liberdade...
Texto sobre o Bairro de Plataforma...
Texto sobre o Bairro de Itapuã...
Texto sobre o Município de Lauro de Freitas...
ReferênciasALMEIDA, José Carlos Fraga et al. Avaliação do impacto social do projeto educacional Cajazeiras 10, cidade de Salvador/Bahia da Fundação Bradesco nos dias atuais. 61 f. 2005. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Administração - Escola de Administração/UFBa, Salvador: UFBA.
FREIRE, Rejane; JUNIOR, Edson; GOMES, Gabriel. Cajazeiras: O Crescimento desordenado de um bairro planejado. Salvador: UCSAL, 2002. Disponível em: . Acesso em: 11 jan. 2009.